Abalado, ele relatou que a bebê caiu no chão ao ser expelida da barriga da mãe que ainda estava no quarto mês de gravidez
Por Aristides Barros
João Vitor chorou copiosamente ao falar sobre o ocorrido
O marmorista João Vitor dos Santos Feitosa, 20 anos, e sua esposa Miriam Sousa Querino, 31 anos, somam-se a várias dezenas de pessoas que, ao buscar socorro à vida no Hospital de Bertioga, encontram a morte.
O casal aguardava a chegada da primeira filha e a espera acabou no sábado (18), com a morte da criança, o que teria sido decorrente de um abordo natural ocorrido dentro da unidade de saúde.
O caso é alvo de investigação porque a família de João Vitor registrou ocorrência na Delegacia de Polícia de Bertioga, em função da série de situações perturbadoras acontecidas no local.
Um advogado já constituído pela família aventa a possibilidade de processar por violência obstétrica, o que não seria a primeira vez. Leia em Bertioga vive um domingo de protesto pela morte de recém-nascido
Miriam estava na 13 ª semana de gravidez e a gestação foi interrompida de forma brutal, conforme disse o pai. João Vitor não conteve as lágrimas ao narrar as circunstâncias trágicas da perda da primeira filha. “Ela caiu no chão quando saiu de dentro da barriga da minha esposa”. Neste momento ele passou a chorar.
O marmorista contou que foi a sua mãe que presenciou a cena impactante. Ela, que era a acompanhante da nora no hospital, falou que a queda da criança foi provocada pelo esforço da parturiente ao se levantar da maca sem a ajuda das enfermeiras. Assim que ficou de pé, pôs as mãos no ventre aparentando estar com forte dor e a criança “saiu” e se estatelou no chão.
Ainda segundo ele, a sua mãe destacou que o médico, cujo nome não foi divulgado, que atendia Miriam teria impedido que as enfermeiras ajudassem a parturiente a se levantar da maca.
João Vitor acusou um profissional de medicina de tê-lo tratado, e também a esposa, de forma rude. Segundo o marmorista, o médico ignorou seu desespero ao insistir em perguntar ao profissional porque a mulher estava tão mal: “Quem descobrir vai ganhar o Oscar”, teria dito o profissional.
Miriam sofre de hipertensão (pressão alta) e sua gravidez era considerada de risco, o que aumentou após a série de idas e vindas ao hospital desde o dia 10 deste mês e só findou no sábado (18), com a morte da criança.
Em face do agravamento da situação, o marmorista, logo no primeiro dia de ida ao hospital, pediu que a esposa fosse internada, o que foi recusado. Já na primeira vez que foi à unidade médica a gestante estava em estado crítico por conta de um sangramento.
Casal tem o sonho destruído
Cabisbaixo, o pai da criança ainda aturdido em frente a entrada do hospital
João Vitor e Miriam já tinham escolhido o nome da filha, que se chamaria Antonela e faria companhia ao Antoni, 02 anos de idade, filho único do casal e que, igual a eles, também estava ansioso pela chegada da irmãzinha. “Todo dia ele encostava a cabeça na barriga da minha mulher e falava ‘a minha irmã está vindo”, contou o marmorista, que chorava a cada relato feito.
“Daqui pra frente é o luto, é difícil, essa menina foi muito planejada. Era um sonho muito grande meu e da minha esposa ter uma menina, e formar um casal. Meu filho também queria muito ter uma irmã”, disse, entre soluços.
A espera, cuja morte enlutou a família, a forma assustadora como tudo aconteceu, o tratamento do médico que teria chegado ao extremo da indiferença ao tripudiar o casal, não deixando que as enfermeiras ajudassem à parturiente, fez João Vitor explodir num desabafo de revolta.
“Isso não pode passar em branco, porque se passar nunca vai mudar. Mesmo a gente processando pode ser que não mude nada. Pode ser que não faça efeito nenhum ao hospital, mas vamos fazer a nossa parte, correr atrás do nosso direito”, evocou.
Perguntado como se sentia pelo acontecido, o marmorista respondeu: “Sinto muita dor, mas também muita angústia e raiva pelo fato do povo que estudou, que fez um curso, têm anos de profissão tratar as pessoas como lixo. Porque a minha esposa foi tratada como um animal. As pessoas se dedicam tanto para falar que vão ajudar a salvar vidas e não salvam”, concluiu.
Na cidade, as pessoas se perguntam qual é o preço da vida
As pessoas começam a indagar quanto vale a vida em face das ocorrências
O Hospital Municipal de Bertioga é gerido pelo Instituto Nacional de Tecnologia e Saúde (INTS), que se identifica como uma Organização Social sem fins lucrativos. Porém, o valor do seu contrato com a Prefeitura de Bertioga, que é em torno de R$ 50 milhões, afasta o caráter altruísta entre ambas as partes. O montante é pago ao INTS para gerir os serviços do hospital e outras unidades de saúde da cidade.
A cifra milionária se soma a processos e óbitos que deixam sequelas físicas e psicológicas em quem já sofreu mal atendimento na unidade de saúde. Em face disso, já há o questionamento sobre qual o valor que o hospital e a administração pública dão para a vida dos bertioguenses. Muito, pouco ou nenhum? Essa é uma pergunta que vale milhões.
Foi pedido que a Prefeitura de Bertioga e o INTS se manifestem sobre o caso e ocorrerá a atualização da reportagem com a posição de ambos os órgãos quando houver as respostas.
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