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Foto do escritorAristides Barros

Mãe chora pelo filho que entrou no Hospital de Bertioga com dor nas costas e saiu morto

As repetições de tragédias aproximam famílias para, juntas, tentar que a Justiça puna os responsáveis por atendimentos que acabam virando caso de polícia


Por Aristides Barros


Familiares registraram em fotos e vídeos Márcio, ainda com vida, no hospital


O ajudante geral Márcio Santana de Souza, 30 anos, fez o caminho sem volta ao ir para o Hospital Municipal de Bertioga, onde chegou com vida e saiu morto. No dia 25 de novembro, ele foi duas vezes à unidade de saúde sentindo dor nas costas. Na primeira vez foi medicado e liberado, e como a dor persistiu teve de retornar.


De volta ao hospital da cidade, ele ficou por três dias até morrer no terceiro dia (28) sem que os médicos descobrissem a doença que o acometeu, e que teria resultado na sua morte. Esse foi o relato de sua mãe, a diarista Maria do Carmo Reis de Souza, 52 anos. 


Inconsolável, ela ainda chora a morte do filho que foi procurar a cura e encontrou a morte. “Mesmo sem saber o que ele tinha ‘entupiram’ o meu filho de remédios, não conseguia nem mais urinar e ficou com a barriga toda inchada”, lembrou a mãe.


Com a saúde abalada devido ao ocorrido, Maria do Carmo afirma que só vai descansar e ter paz quando os supostos responsáveis pela morte de Márcio forem punidos. “Quero justiça”, enfatiza.  


“Meu filho era forte, nunca teve problema nenhum. Só dessa vez sentiu dores nas costas, levamos ele para o hospital e aconteceu isso”, disse com a voz embargada. 


A família informou o acontecido à polícia e um boletim de ocorrência teria sido registrado na Delegacia de Bertioga visando abertura de investigação, para apurar as circunstâncias da morte.


Maria do Carmo revelou que já colocou um advogado para acompanhar o caso, que junto a outros ilustram um cenário de horror no único hospital da cidade. A família aguarda a documentação necessária para mover um processo contra o hospital.


A mãe também disse ter estranhado que uma funcionária do hospital lhe tenha pedido o atestado de óbito do filho. 


“Estava tão transtornada que não pensei que eles queriam o documento para ver informações que ninguém passou, sequer souberam dizer o que matou o meu menino”, disse.


“Quando percebi isso era tarde demais já tinha deixado na mão da funionária ”, contou. Os familiares agora esperam que o hospital entregue o prontuário médico do paciente morto.


O que diz o INTS


Acerca do caso, a reportagem contatou o Instituto Nacional de Tecnologia e Saúde (INTS), que é a Organização Social de Saúde (OSS) gestora dos serviços do Hospital de Bertioga. A resposta da organização segue abaixo: 


“O INTS, responsável pela gestão do Hospital Municipal de Bertioga, lamenta a morte do paciente Marcio Santana de Souza, e informa que o caso foi encaminhado para a comissão de ética médica e, seguindo os procedimentos exigidos para o caso, encaminhou também para o SVO. Simultaneamente, abriu uma apuração interna para avaliar os procedimentos médicos relativos ao atendimento do paciente. Em relação ao prontuário, o hospital já recebeu o pedido e irá disponibilizar cópia do documento para a família. O INTS segue à disposição da família para quaisquer esclarecimentos”.


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A Prefeitura de Bertioga e o Instituto Nacional de Tecnologia e Saúde (INTS) fazem parceria no sofrimento das famílias, cujos parentes morrem em situações desencadeadoras de uma série de indagações sobre os benefícios de um contrato anual no valor de R$ 53 milhões, mantido entre a administração municipal e o instituto.


A prefeitura paga o INTS para gerir os serviços do hospital e outras unidades de saúde da cidade. O contrato é milionário, mas o instituto é uma Organização Social de Saúde (OSS) sem fins lucrativos. 


A quantia desembolsada pela administração leva a questionar o que poderia fazer  com que o INTS parasse de pontuar negativo, mais precisamente no trabalho que deveria cumprir com eficiência: que é o de ao menos tentar garantir a sobrevida dos pacientes, o que, com frequência, traz resultado morte.


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Familiares de pacientes e pessoas que sofreram traumas físicos e psicológicos no Hospital Municipal de Bertioga já cogitam criar uma Associação de Vítimas para, juntos, terem mais força na queda de braço contra os patrocinadores da morte.


“É inaceitável que o hospital ganhe tanto e faça tão pouco pela população usuária do sistema público de saúde da cidade. A Justiça, o Ministério Público e a classe política de Bertioga precisam ficar atentas e adotar medidas duras contra os terríveis acontecimentos, que são recorrentes no hospital da cidade”


O comentário parte de pessoas que perderam seus parentes no local, da imprensa que denuncia o morticínio e de entidades da sociedade civil que não se calam diante de flagrantes casos de descaso com a vida humana. 


A ideia de uma associação objetiva, para além de fiscalizar, pressionar os responsáveis pela área médica-hospitalar da cidade a exigir de quem assuma os serviços de saúde do município que os faça sem resultados letais à população, que é o que não acontece. 


Não é fato raro pacientes saírem do local direto para o IML e cemitério, suas famílias direto para a delegacia policial e depois esperar que a Justiça se encarregue de punir eventuais responsáveis pelo verdadeiro morticínio, que ocorre quase que sucessivamente na unidade de saúde.


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