Falta de especialistas na rede pública de saúde leva moradores a buscarem socorro em outras cidades
Por Aristides Barros
A UPA Unidade de Pronto Atendimento localizada no bairro Jardim Caiuby
As filhas de um dos integrantes da AUTI (Associação de Usuários de Transportes Públicos e Outros Serviços das Cidades do Alto Tietê), ambas moradoras em Itaquaquecetuba, tiveram os olhos atingidos por fragmentos quando manuseavam peças metálicas na indústria onde trabalham.
Por conta do acidente, elas foram obrigadas a procurar a ajuda de oftalmologistas fora da cidade, porque, segundo o pai, a rede pública de saúde de Itaquá não conta com profissionais dessa especialidade médica. Uma filha encontrou atendimento em São Paulo e outra em Guarulhos.
O pai revoltado disse não aceitar que uma cidade do tamanho de Itaquá, que tem cerca de 500 mil habitantes, tenha moradores sofrendo problemas de saúde pela falta de profissionais de diversas especialidades.
"O acidente com elas faz pouco mais de um mês e a gente se sente impotente com esse descaso", afirmou. "Por pouco as minhas filhas não perderam a visão", completou.
O tapeceiro Jorge José de Souza, 61 anos, endossa a fala do pai das trabalhadoras ao citar que necessita de consulta com um ortopedista, por sentir fortes dores nas costas e nas articulações.
Segundo ele, a rede municipal não tem esse profissional de medicina. "Já há um ano espero atendimento, e acredito que vou continuar na fila porque a cidade não tem essa especialidade", lamenta.
Jorge e o pai das trabalhadoras moram há mais de 50 anos, na região do Caiuby, em Itaquá, e dizem que a conhecem como a palma da mão, e que ela (Itaquá) enfrenta um momento difícil em vários setores.
"Mas, a área de saúde do município piorou muito", afirma o tapeceiro. "Uma pessoa correr o risco de perder a visão porque não temos um oftalmologista já dá para ver como está a situação", disse, fazendo um trocadilho, o pai das trabalhadoras.
Ambos apontam que a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Caiuby - bairro vizinho ao que moram - reflete que a área de saúde da cidade está com sérios problemas e necessita de atenção da prefeitura de Itaquá.
MORADOR DENUNCIA CORTE DE ÁRVORE "DESNECESSÁRIO" NA VILA INDUSTRIAL
Ao menos 15 árvores que levaram décadas para crescer caíram em questão de segundos
Na sua simplicidade, o autônomo Vicente Luiz Severo, 63 anos, o popular Martinho, morador no Jardim Caiuby, ensina em tom didático noções de respeito ao Meio Ambiente para Itaquaquecetuba.
Ele denunciou o corte de ao menos 15 árvores na rua dos Minerais, na Vila Industrial, onde o que demorou décadas para crescer caiu em questões de minutos ao fio de uma motosserra. Ele diz que a ação vai na contramão da preocupação mundial voltada às mudanças climáticas
"Para muitas pessoas pode não significar nada, mas é uma parte do mundo que morre. E a gente sabe, vê e sente, que o mundo começa a responder às agressões como essa", afirma.
"A conta está chegando de formas desastrosas que também têm levado vidas humanas~. É como se fosse o toma lá dá cá, bateu, levou", diz Martinho para ilustrar que toda a ação leva à reação.
O motivo alegado para o corte das árvores seria porque as raízes estariam danificando o muro da empresa, cuja vegetação surgia imponente espaçada na calçada da rua dos Minerais.
Para Martinho, a alegação não condiz. "A gente vê que o muro todo não tem nenhuma rachadura, a estrutura está forte e sólida", avaliou.
De acordo com ele, os agentes do Meio Ambiente da prefeitura de Itaquá teriam de fazer uma perícia para depois se chegar, ou não, à "sentença de morte das árvores". "A gente fica chateado com essa forma de destratar a Natureza”, lamenta o autônomo.
Ele finaliza. “O mesmo que fazem com ela, um ser humano também faz com o outro. Mas, o desrespeito a toda forma de vida começa a ter o retorno", afirma Martinho recorrendo a um ditado. "Não faça aos outros o que não quer que os outros façam a você"
AUTI: JÁ HÁ TRÊS DÉCADAS ATENTA AO QUE ACONTECE EM ITAQUÁ E REGIÃO
Diretores da AUTI se movimentam pela região na busca de soluções a diversos problemas
A Associação de Usuários de Transportes Públicos e Outros Serviços das Cidades do Alto Tietê, (AUTI), nasceu em Itaquaquecetuba pela necessidade de cobrar do poder público a realização obrigatória de serviços públicos nas diversas áreas onde vai, ou deveria ir, os impostos pagos pelos contribuintes.
"O dinheiro do povo não é para a 'engorda' da classe política. É para favorecer a população na forma de benefícios aos quais ela tem direito", afirma.
"Cada centavo que entra nos cofres tem de voltar na realização desses serviços", defende o ativista político Jorge José de Souza. (de chapéu e óculos à esquerda).
Ele é militante esquerdista e já presidiu o Partido dos Trabalhadores de Itaquaquecetuba. Jorge está na AUTI desde o início da entidade, sendo um de seus fundadores.
Jorge revela que a entidade tem atuação regional e grupos de fiscalização operantes em vários segmentos da sociedade. A AUTI existe já há 33 anos.
O comerciante Ivanil Aparecido da Silva, 63 anos, (ao centro) mostra preocupação extremada com a prestação de serviços públicos que deveriam, e não são, destinados à população que paga, mas não recebe sequer o troco do produto pago em impostos.
"Quem mais sofre é o povo carente, e tudo o que falta a ele é devido a falta de compaixão de quem governa", afirma.
Ele sabe o que é poder e para que e a quem deve servir. Ivanil já foi vereador por Itaquá no início dos anos 2000 .
O autônomo Vicente Luiz Severo, 64 anos, o Martinho, (à direita) é bacharel em Direito formado pela FIG-UNIMESP.
A vitória acadêmica ele direciona a oportunidade de poder voltar aos estudos e cursar o ensino superior por meio do ProUni.
Martinho revelou não ter pago pelo curso, teve bolsa 100% integral. Ele afirma que os seus trabalhos como advogado, quando obtiver o registro da OAB, serão em função das causas sociais, destinados aos menos favorecidos e mais necessitados.
Jorge (presidente), Martinho (vice-presidente) e Ivanil (tesoureiro), são os “linhas de frente” da Auti. Com outros companheiros espalhados nas cidades de Mogi das Cruzes, Suzano, Arujá, Guarulhos, e as demais municípios do Alto Tietê.
Todos os integrantes formam tentáculos da luta convocada no próprio slogan da AUTI, que reafirma a necessidade de organização popular. "Nenhum de nós é tão bom quanto todos nós juntos".
NOTA DA REDAÇÃO - As reportagens acima decorrem de ações de fiscalizações de representantes da AUTI e foram feitas no final do mês de julho. Em alguns trabalhos os próprios diretores da entidade sentiram na pele o drama vivido pela maioria dos moradores de Itaquá.
O QUE DIZ A PREFEITURA
O site Efeito Letal indagou e aguarda a manifestação da Prefeitura de Itaquaquecetuba acerca dos fatos. Assim que obtiver as respostas a matéria será atualizada com a posição da administração municipal.
Comments