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Foto do escritorAristides Barros

Comunidade de Boracéia recebe ajuda do Sesc Bertioga em projeto socioambiental

Além de possibilitar o aumento da renda das famílias nas Chácaras Mogianas, a meliponicultura tem caráter preservacionista


Por Aristides Barros Fotos: Aristides Barros


Há dois meses que a meliponicultura, ou criação de abelhas sem ferrão, mudou a rotina de cerca de alguns dos cerca de 200 moradores das Chácaras Mogianas, no bairro de Boracéia, que fica a uma distância de aproximadamente 30 quilômetros do Centro de Bertioga. Eles começaram a estudar a atividade, que muitos nem sequer conheciam ou tinham ouvido falar.


Na presidência da ACMB (Associação dos Moradores das Chácaras Mogianas em Boracéia), Jerlan Santos, 40 anos, viu no projeto mais uma forma das famílias poderem aumentar a renda. Iguais a ele, os responsáveis por “colocar comida na mesa”, em sua grande maioria são trabalhadores da construção civil que sentem o peso da inflação nos ombros e no bolso, e precisam de ganhos extras.


O líder comunitário conseguiu fazer a parceria junto ao Sesc e, em agosto, começou o curso prático já iniciado com a criação de abelhas sem ferrão na localidade. Alguns moradores passaram a se dedicar ao trabalho que requer atenção especial devido a complexidade técnica da atividade, cujo lucro não é imediato.


O Sesc Bertioga cedeu à comunidade 30 caixas para a criação de colônias de abelhas, materiais para a construção de mais caixas, além de enviar à comunidade professores, técnicos e profissionais com larga experiência, capacitação e conhecimento sobre a atividade, no sentido de orientar par e passo para o manejo da meliponicultura.


Paciência é a palavra chave na meliponicultura onde o “chefe maior” é a Natureza, a mestre de obras é a abelha rainha para quem as outras centenas de abelhas operárias trabalham incansavelmente para alimentar visando a reprodução de novas abelhas, de modo que tudo o que produzirem no meliponários (colmeias). desde o mel ao pólen, cera, própolis, além de mais abelhas, serão futuramente produto de comercialização.


Porém, o lucro financeiro conquistado não é a parte final do empreendimento que segue: as abelhas continuam na função de serem os principais agentes da polinização e a conservação da biodiversidade, ou simplesmente a proteção das espécies contra a extinção.

O Projeto Meliponicultura foi apresentado ao Sesc Bertioga pelo engenheiro agrícola Henrique Casalderrey, 45 anos, que é mais conhecido como Lilo. Após avaliar a ação, a instituição aprovou a iniciativa do engenheiro.


Especialistas e aficionados pelo tema orientam e eliminam dúvidas


Logo ao ser iniciado o projeto na Chácaras Mogianas a localidade passou a receber pessoas com larga experiência e atuação na meliponicultura, cuja atividade já é consolidada no Nordeste e no Sul do país, mas é novidade no Litoral de São Paulo, mais precisamente em Bertioga.


No último sábado (08), a reportagem acompanhou a reunião dos moradores com visitantes das cidades litorâneas de Santos, São Vicente, Ubatuba, Cubatão e de cidades do interior paulista, Presidente Prudente, Cotia e Ribeirão Preto. Desta última veio o ecólogo Jerônimo Villas Boas, 40 anos.


Mestre em Gestão Ambiental, especialista na cadeia de produtos da sociodiversidade, ele é autor de livros ligados ao tema que também aborda em vídeos pelo Youtube. Villas Boas que é apontado como um dos mais ativos defensores dos méis de abelhas nativas, falou de forma clara, objetiva e simples no encontro de sábado na Chácaras Mogianas.


O convite para Villas Boas ir ao local partiu do próprio engenheiro agrícola e autor do projeto Lilo, e teve o aval da Reserva Natural do Sesc Bertioga, que é responsável pelo setor de projetos dos programas de Educação para Sustentabilidade e Valorização Social.


A conversa com os moradores começou às 13 horas se estendendo até às 17 horas, com direito a uma caminhada pela trilha que leva ao meliponário onde estão 30 colmeias, feitas pelas pessoas da comunidade, que já aguardam o resultado do trabalho.


“A produção começa a partir do instante da instalação das abelhas nas caixas, porque elas já têm de trabalhar para alimentar a abelha rainha e aí é um processo de manejo que conta com uma série de ações”, disse Villas Boas.


Mas, a comercialização dos produtos, que é o objetivo pretendido pela comunidade, só acontecerá após três anos. “É preciso paciência e persistência, quem não desistir do projeto não vai se arrepender”, falou o ecólogo.


Ele atesta que a ação comunitária “não vai deixar ninguém rico”, mas quando a comercialização se efetivar alguns sonhos poderão ser concretizados. “Vocês só terão que ter muito cuidado, atenção e dedicação, quem vai trabalhar mesmo na produção são as abelhas, que é o que naturalmente elas já fazem”, afirmou.


Localidade “caiu como uma luva” para a realização do projeto


O local indicado para o desenvolvimento da meliponicultura, bem como a própria Chácaras Mogianas, fica no PERB (Parque Estadual Restinga Bertioga). E tem o sinal verde dos responsáveis diretos pela enorme área de preservação ambiental que ao ser mapeada, em 2001, “abocanhou” bairros até então desconhecidos, o que provocou discussões relacionadas a questões fundiárias.


Os impasses ainda dominam o cenário, mas no tocante ao Projeto das Abelhas sem Ferrão o PERB não fez restrições. É consciente que o projeto caminha com a ideia de criação do parque que foi criado para a proteção da Natureza.


“O clima litorâneo, temperatura quente, forte período de chuvas, a mata fechada, tudo é ótimo para a criação das abelhas da espécie Uruçu-Amarela, que é essa que eles têm aqui”, afirmou Villas Boas desejando boa sorte aos moradores e reiterando para que eles não abandonem a iniciativa.


Se depender da estudante Gabriela Souza Santos, 15 anos, que está no projeto desde o início do curso de meliponicultura, a atividade vai ficar na Chácaras Mogianas por muito tempo. “Gosto muito do que estou aprendendo a fazer e na escola os meus colegas fazem muitas perguntas sobre o projeto”, falou.


“Hoje são poucas pessoas participando, porque a maioria trabalha em outros serviços para sustentar suas famílias. O lucro aqui ainda vai demorar e a fome não espera. A gente entende tudo isso, mas temos persistência, paciência e consciência, de que o projeto vai dar certo e vai beneficiar toda a comunidade”, finalizou.


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