Com faixas e cartazes, familiares e amigos da vítima se manifestaram em frente à unidade de saúde
Por Aristides Barros
Sabrina e Daniel e afirmam que vão seguir insistentes na busca de justiça para o filho
A morte precoce de Akin Ayo, que não chegou a ver a luz da vida, move o casal Daniel Robson Prado e Sabrina Monteiro Rodrigues da Silva Aguiar - pai e mãe da criança - a buscar justiça pelo menino morto no Hospital Municipal de Bertioga.
Akin seria o primeiro filho de Daniel e Sabrina e o seu nome traz o significado “menino guerreiro que veio para trazer luz e alegria”.
Os sentimentos ternos do pai, da mãe e de toda a família a ele, se perderam levados pelo hospital que já é “dono” de tragédias idênticas, repetidas com a mesma dor e intensidade. Quem sofreu, sofre, sabe como é ter o sonho e a vida roubados, tragados com fúria.
A fotógrafa Samara Rodrigues Monteiro da Silva Aguiar e a cuidadora Patrícia Monteiro Rodrigues, 48 - irmã e a mãe de Sabrina - se deslocaram de Ribeirão Preto para Bertioga no sentido de ajudá-la a se reerguer, frente ao infortúnio que deixou todos devastados.
Nas redes sociais, Samara chamou a atenção das pessoas para o drama de Sabrina e Daniel e de toda a família. Com isso juntou outros mais à luta comum de respeito à vida e repúdio aos que agem contra ela.
A própria Samara trouxe a tortura de Sabrina. “Entrou em trabalho de parto na manhã de sexta-feira, dia 25 de agosto, e foi para o hospital de Bertioga, às 6h30.
Com o bebê, ainda prematuro, 33 semanas, sofreu muitas violências obstétricas e negligência médica.
Akin estava bem, foi feito uma ultrassom na quinta,um dia antes, e durante o parto estava com batimentos cardíacos que mostrava estar tudo bem.
Akin nasceu e não resistiu, tentaram reanimação e não conseguiram”
A irmã dois anos mais velha segue narrando os momentos de aflição. “Logo após Sabrina ficar sabendo que seu bebê havia falecido, o médico entrou no quarto em que ela estava sozinha e disse "a culpa foi sua, porque você não me deixou fazer o corte"
Sabrina relata " ele pegou o fórceps colocou em mim e quando eu percebi falei pra ele tirar, ele falava pra eu nao gritar, que eu tava fazendo a força errada, tirou o fórceps com tudo, eu vi a cara dele de raiva, eu olhava pro pediatra e falava me ajuda, me ajuda, ele ta judiando de mim"
"A enfermeira não me deixou com meu filho nem 5 min, tirou meu direito de me despedir do meu filho, ela tirou do meu colo rápido, eu só queria ter visto mais um pouco meu filho"
A reportagem conversou com o pai da criança, Daniel Prado. Ele falou que vai do luto pelo filho à luta por justiça visando que outras mães e famílias não venham a sofrer situação semelhante dentro do hospital.
Amiga de Sabrina, Roberta Maciel de Goes, 37, levou o caso à Delegacia de Bertioga onde, primeiro a ocorrência foi registrada como morte natural e depois como morte suspeita.
O corpo da criança foi encaminhado ao IML de Praia Grande para a realização de exames necroscópicos.
CORRENTE DE APOIO EM DEFESA DA VIDA E VOZ DE PUNIÇÃO AOS RESPONSÁVEIS
A irmã Samara e a mãe Patrícia lideraram a manifestação em frente à unidade de saúde
Ao fim do relato da morte de Akin Aio e a imolação de Sabrina, Samara marcou para às 18 horas de segunda-feira (28), o dia do protesto em frente ao local onde aconteceu o dia do horror.
O ato foi majoritariamente participado por mulheres. Elas têm e sabem do amor e da longa espera pelo filho, e a dor quando eles não vem.
A ativista Valéria Passarin, 61 anos, integrante do movimento Rede Feminista Manacá foi logo falando. “Não é uma situação comum já acontece há algum tempo a luta já vem sendo feita a violência obstétrica já é considerado crime e vamos acompanhar toda essa situação” disse.
Outra ativista, Cíntia Santos da Conceição, 48 anos, do projeto Promotoras Legais Populares, afirma. “A violência obstétrica há muito tempo vem assolando a vida de muitas mulheres e muitas famílias. Somos solidárias à mãe e vamos ajudá-la a buscar justiça para o filho”.
O projeto Promotoras Legais Populares (PLP), existe em todo o país, e desenvolve curso de formação de mulheres ampliando e fortalecendo o conhecimento de seus direitos e dos caminhos de acesso à justiça e combate à discriminação e opressão,
O PLP atua como uma ponte entre o Estado e a população e já está em atividade em Bertioga há cinco anos.
Ambas dividem a responsabilidade do caso à prefeitura bertioguense e ao INTS, que gerencia o hospital. “A prefeitura se torna cúmplice e responsável por essa situação porque ela que contrata”, afirmam as ativistas.
Aliás, a administração municipal mantém um contrato vultoso com o INTS pela execução de serviços na área de saúde da cidade.
INTS nomeia Instituto Nacional de Tecnologia e Saúde, já para algumas famílias bertioguenses a sigla traz a lembrança de morte e para a prefeitura traz a contabilização de alguns caixões.
MORTALIDADE INFANTIL ACIMA DO RECOMENDADO PELA OMS
Ativistas pedem um fim ao suplício de crianças e mulheres vítimas de violência obstétrica
Em reportagem datada de 19/07/23, o jornal A Tribuna traz que a Mortalidade infantil está acima do recomendado em cinco cidades da Baixada Santista.
"Dos nove municípios da região, cinco apresentam taxas de mortalidade infantil acima do preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de 10 para cada mil nascidos vivos.
Cubatão, Bertioga, Guarujá, São Vicente e Mongaguá registraram ao longo do primeiro semestre deste ano números acima do recomendado pela entidade.
Sobre Bertioga a reportagem aponta. “Com 15,03 mortos para cada mil nascidos vivos, atribui o índice ao cenário pós-pandemia.
A Prefeitura de Bertioga afirma revisar os protocolos de atenção pré-natal, com organização do cuidado em casos de gestações de risco e ações educativas e de acolhimento.
A Prefeitura de Bertioga também afirma investir na capacitação dos profissionais da rede hospitalar em reanimação neonatal e, por fim, diz incrementar os programas de planejamento familiar”.
Instituto se posiciona sobre o ocorrido
Em nota que segue postada no instagram do casal, o instituto se manifestou sobre o caso. Destaca-se que a nota recebeu o endosso da Secretaria de Saúde de Bertioga.
“Nós, do INTS, assim como a diretoria do hospital e toda a equipe, lamentamos profundamente a sua dor neste momento difícil.
Queremos que saiba que estamos aqui para oferecer todo o apoio à sua família e para fornecer os esclarecimentos que forem necessários.
Como responsáveis pela gestão do Hospital Municipal de Bertioga, informamos que foi iniciado um processo de investigação interna para apurar as circunstâncias desse ocorrido.
Além disso, o médico obstetra em questão foi temporariamente afastado para a devida análise do caso.
Nossa equipe está à disposição para prestar assistência a vocês durante este momento delicado.
Estamos comprometidos em apoiá-los da melhor maneira possível.”
Por meio da Assessoria de Imprensa e em resposta ao site Efeito Letal a Secretaria de Saúde de Bertioga acrescentou: Além do médico ter sido afastado preventivamente, o INTS rompeu contrato com a empresa prestadora dos serviços de ginecologia e em até 30 dias outra empresa assumirá esse serviço no hospital
A reportagem também fez outra série de indagações à Prefeitura de Bertioga, entre elas sobre o valor do contrato da administração municipal com o INTS. O EL teve acesso ao contrato que vigora até 18/04/24.
O valor é de R$ 51.240.020,64 (cinquenta e um milhões, duzentos e quarenta mil, vinte reais e sessenta e quatro centavos).
PROJETO PARA TIPIFICAR A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA COMO CRIME TRAMITA NO CONGRESSO NACIONAL
Morte da criança reuniu ativistas de diversos grupos e entidades de apoio às mulheres
O Projeto de Lei 190/23 altera o Código Penal para tornar crime a conduta do profissional de saúde que ofende a integridade física ou psicológica da mulher durante as fases da gravidez (gestação, parto e pós-parto).
A pena prevista, nesse caso, é de 1 a 5 anos de reclusão e multa, conforme o texto em análise na Câmara dos Deputados.
De acordo com a proposta, a conduta criminosa se configura quando o profissional de saúde, sem o consentimento da mulher, utiliza manobras, técnicas, procedimentos ou métodos em desacordo com o estabelecido pela autoridade de saúde.
“A prática de violência obstétrica é uma triste realidade no Brasil, e consiste na utilização de procedimentos e condutas que desrespeitam e agridem a mulher durante a gestação, no pré-natal, no parto, no nascimento ou no pós-parto”, diz o autor do projeto, deputado Dagoberto Nogueira (PSDB-MS)
A proposta ainda será despachada para análise pelas comissões permanentes da Câmara.
Fonte: Agência Câmara de Notícias
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