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Foto do escritorAristides Barros

CAMINHO DA MORTE - JOVEM AGONIZA EM BERTIOGA E É LEVADA PARA MORRER EM SANTOS

Atualizado: 17 de mar. de 2020

Demora na transferência de um hospital a outro revolta familiares, que denunciam negligência e maus tratos


Por Aristides Barros




O nome de Valdiceia Conceição da Silva, 21 anos de idade, aumenta o número de denúncias de mau atendimento contra o Hospital Municipal de Bertioga, gerenciado pela INTS, cujo valor milionário do contrato com a Prefeitura de Bertioga, faz que empresa e administração municipal se distanciem do serviço ansiado pela população da cidade e pelos parentes de pessoas que morrem dentro da unidade de saúde, ou na inevitável passagem por ela.


São R$ 3 milhões/mês o valor do contrato firmado entre a Prefeitura de Bertioga e o INTS (Instituto Nacional de Amparo à Pesquisa, Tecnologia e Inovação na Gestão Pública), OSS (Organização Social de Saúde). A duração do contrato é de dois anos e até o término do mesmo, caso não ocorra nenhuma alteração, a empresa receberá dos cofres públicos de Bertioga R$ 72 milhões. A empresa foi contratada em meados de 2018.


O mau atendimento é denunciado pelos familiares da balconista Valdiceia Conceição da Silva, 21 anos, que junto a ela passaram quatro dias de horror no local até a balconista ser transferida para a Santa Casa de Misericórdia de Santos, onde morreu poucas horas após dar entrada na instituição médica. Ainda abalada, a família afirma que a morte aconteceu em função da demora na transferência da jovem para um local com melhores recursos.


Levada para o Hospital de Bertioga na segunda-feira (2), expelindo sangue pela boca ela permaneceu assim até a noite de sexta-feira (6) quando foi transferida para a Santa Casa de Santos, já com a saúde piorada. Em Santos os médicos logo que viram a situação da jovem anteciparam aos pais. "O estado dela é muito grave. Vocês têm de estar preparados”, disse Maria Souza da Conceição, 48 anos, mãe da balconista.


Ela acompanhou a filha na ambulância. “Deixamos ela na Santa Casa e assim que chegamos em Bertioga avisaram pra gente voltar, porque ela tinha morrido”, disse a mãe. O tempo todo com a filha, nos momentos críticos - do Hospital de Bertioga a Santa Casa - Maria só chorou.


AGONIA - Porém na conversa com a reportagem a dor foi deu lugar à revolta e as lágrimas foram substituídas por palavras de protestos e desmentidos que transtornou mais a família. Pela versão da Secretaria de Saúde de Bertioga foi dito que a Valdiceia chegou no hospital na quarta-feira (4). “Levamos na segunda-feira, ela ficou no quarto de observação de segunda até terça. Na quarta quando piorou muito é que a levaram para o isolamento. Pedi para ficar com minha filha para ela não passar a noite sozinha. Me negaram isso, disseram que por ela ser maior de idade não era permitido acompanhante. Mas, uma enfermeira falou que iria providenciar. Fiquei com ela e depois a namorada dela também ficou. Eu não estava suportando mais ver o sofrimento da menina. Ela estava com muita falta de ar e vomitava muito sangue”, relatou a mãe. “O meu marido falou com o médico se não podiam transferir a menina pra uma clínica. Disseram que ela já estava sendo medicada e que iriam resolver o problema alí mesmo. Mas eles sabiam que ela ia morrer, estava muito mau. Eu não entendo porque não transferiram logo. Isso me dói muito. Eu perdi a minha filha”, contou Maria, que aniversariou no dia 10, três dias após a morte de Valdiceia.


FRIEZA - A mãe da balconista denunciou que foi destratada por um médico e por enfermeiras - que não soube identificar os nomes. “Eu poderia ter pego o nome dele pela receita quando indicou a medicação. Mas não fiz isso porque dizem que não pode fotografar nada dentro do hospital, senão faria com o celular”, disse Maria.


Ela revelou que a medicação se resumia em Dramim, Buscopan e soro. “As enfermeiras me viam e comentavam entre si ‘essa é a mulher daquele caso’. Todas sabiam o que estava acontecendo porque eu pedia ajuda pra todo mundo, estava desesperada. Todos sabiam, mas não ajudaram a minha filha e ela morreu”, lamentou Maria.


Sobre o médico a mãe relata a frieza. “Lembro ele dizendo que não podia fazer mais nada porque ela estava com sangue no pulmão e não podia tirar”.


Depois de tudo consumado, Maria recebeu o golpe final. “Entregaram para o meu filho a blusa dela cheia de sangue. Isso não se faz, devolver uma roupa cheia de sangue pra uma mãe. Quando vi a blusa dela daquele jeito me revoltou muito”, afirmou.


O pai, Vitor Santos da Silva, 55 anos, disse que não pretende acionar o hospital na Justiça, até antevendo que “amanhã pode precisar do mesmo hospital e isso pode atrapalhar”. Cauteloso, disse que se limitou a ir até o hospital e desabafar contra o que reiterou ter sido negligência do hospital.


O QUE DIZ A PREFEITURA

A reportagem do Efeito Letal contatou a Secretaria de Saúde de Bertioga, que por meio da assessoria de Imprensa da prefeitura, respondeu que: "Segundo o INTS, que gerencia o Hospital de Bertioga a paciente, esteve no (PA) Pronto Atendimento em dias de meses intercalados, os últimos atendimentos ocorrerão em 27/06, com queixas distintas do diagnóstico em (02.12 a 06.12).

No mês de outubro, dia 01, foi verificada uma passagem pelo PA com queixas de vômitos.

A paciente teve passagem com maiores queixas e sintomas no dia 02.12.

Foi observada a sua internação no dia 04.12, com diagnóstico de doença auto imune “ Sìndrome GOODPASTURE”.

Devido ao agravamento do quadro clínico, a equipe médica solicitou vaga de leito de UTI através da Central de Regulação – CROSS às 11:29 do dia 06.12, após intensa busca e movimentação da equipe do INTS e Secretaria de Saúde a vaga foi cedida via sistema às 20:33.

Ressaltamos que o Hospital / Secretaria de Saúde não possui governabilidade nem acesso às vagas em aberto, de referência oferecida pelos serviços referenciados na Baixada Santista.

A paciente deu entrada no dia 02.12 às 15:34 onde foram feitos os atendimentos necessários, o que originou a internação no dia 04.12, devido a evolução do quadro clínico.

Em todos os atendimentos, os pertences são devolvidos ao responsável e/ou familiar, por ser protocolo do hospital.


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